Matéria escrita por: Liandra Nogueira – Estagiária de Jornalismo
Revisada por: Kleber Santos
Aos 77 anos, Ivan Cruz é um nome conhecido na arte brasileira. Mas sua trajetória nem sempre foi traçada com tintas e pincéis. Ex-advogado criminal, ele nunca imaginou que a sua escolha de abandonar os tribunais para seguir a paixão pela pintura o levaria tão longe.
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Em uma conversa com o artista no seu ateliê feito com restos de outras construções, madeira reaproveitada e um quintal cheio de árvores frutíferas, ele nos contou um pouco a sua trajetória no mundo da arte e da sua vida. Com 77 anos, Ivan Cruz é referência na arte brasileira e já fez exposições em vários países e rodou o país com suas coleções. A mais marcante é a “Brincadeira de Crianças” que retrata as brincadeiras de rua. Algumas dessas peças estão expostas na Orla da Praia do Forte, em Cabo Frio. Ao todo, são mais de 30 brincadeiras e segundo ele, ainda fica faltando. As suas artes são conhecidas no mundo todo e mais de 100 editoras usam suas obras em livros didáticos.

Surpresa com o reconhecimento
Conversando aqui, você falou que não imaginava que ia se ver nos livros da escola e tudo mais. Realmente nunca se passou na sua cabeça uma coisa dessa?
Não porque eu começo a pintar, começo a esculpir, começo a desenhar… Pra mim não é? […] Eu não, jamais se poderia imaginar que efetivamente, um dia esses meus quadros, essa imagem dos meus quadros dessas esculturas, viessem a colaborar com o mundo científico-pedagógico, não podia imaginar, lógico que não. […] eu sempre pensei que pô, posso ficar apenas na contemplação da ludicidade das galerias, dos muros que eu pinto, dos murais que eu pinto e que não fosse passar disso aí.
Processo de criação
Como que é o processo criativo das esculturas, dos quadros? como que funciona?
O “Brincadeira de Criança” vem depois de vários processos de criação. Veio o primeiro quadro das “Brincadeiras de Criança” que eu pinto várias crianças brincando, eu gostei da ideia de pintar as crianças brincando. Fui muito censurado, inclusive no início, pelos meus colegas artistas, porque eles ficaram sem entender. “Pô, mas os quadros não têm olho, não tem boca, não tem nariz…” né? Mas é assim, porque não é todo mundo com um processo de criação enraizado naqueles princípios lá de Leonardo da Vinci, de Michelangelo, que tem que ser o cara tem que estudar até o corpo humano para poder pintar um ser humano não é. E o meu não precisou. Eu não preciso de nada disso para poder criar um trabalho. […] O processo de criação tá dentro de Você!
Ele também fala das esculturas de bronze que são pintadas
É importante observar também é o seguinte… Eu não me lembro nem de ter visto os pintores e os escultores patinando da forma que as minhas expressões são patinadas. Por que é que eu, então patinei essa escultura? Coloquei a menina no vestido vermelho, o menino com a camisa amarela, ele aqui com Verde é uma coisa assim? Porque, são as cores dos meus quadros. O artista, normalmente ele não faz isso. Ele quer ver o bronze! Pode reparar que a maioria das esculturas em bronze não é bem assim, o bronze, a reluzencia do bronze brilhando. Não é o meu caso, não é? Então elas são patinadas, porque é o meu quadro que Vem Pra Cá, sai do bidimensional para o tridimensional. Pintados também, eu gosto assim. Retrato meus quadros também.
E as bolsas? Uma das brasileiras mais tops do momento apareceu há uns dias usando uma bolsa com uma das obras do Ivan cruz no aeroporto e nós demos essa notícia aqui no Manchete, você pode relembrar clicando aqui

Coincidentemente, essa brincando de roda. Tem um artista brasileira que ganhou um prêmio muito importante, o é o Globo de ouro. A menina, acho que o nome dela é Fernanda Torres, né? Então, o que acontece, quando ela desceu no aeroporto e o Brasil trazendo o Globo, não sei se estava dentro da bolsa ou não, mas é dessa bolsa aqui (disse ele mostrando a bolsa), aí o Brasil todo depois sabendo que o Ivan Cruz de alguma forma estava presente quando ela desceu aqui no aeroporto do que no Brasil com a bolsa retratando as brincadeiras de criança que eu pintei, uma bolsa dessa aqui, foi exatamente essa imagem que estava na bolsa que ela veio trazendo o Globo de Ouro. Fiquei Feliz demais, né?

Qual foi a coisa mais impactante que já aconteceu com você por causa do seu trabalho? Da sua arte?
O mais impactante foi um dia, eu receber uma pessoa numa exposição que eu estava fazendo e essa pessoa fala para mim, eu estou-lhe procurando já alguns anos. Eu falo “ué, mas como assim?” [e a pessoa responde] “Eu estive uma vez do Charitas eu numa exposição que você fazia, você fez e nos anos 90 foi 98 e perguntei sobre você e ninguém, sobre onde você estava. E pronto, eu estava… estou procurando.” Já era em 2002, por aí, 2003. Então, alguns anos depois, eu já expondo no espaço cultural que tinha aqui no Portinho chamado Casa 500 anos. […] Então é foi muito impactante pra mim receber então essa pessoa que me falou, “Olha, naquele dia lá eu ia comprar todo o seu trabalho, mas ninguém achou você. Eu estou te encontrando aqui agora. Eu sou um Marchand de sorte, você quer me vender o seu trabalho agora?” E Eu falo “agora!” Daqui a pouco, quando eu olhei para mim, eu estava em Portugal, com tudo por conta do Marchand, obviamente, eu tinha, tinha casa, tinha motorista. Eu não gastava absolutamente nada, recebia pelo trabalho que eu fazia. Fui 3 vezes para Portugal. Eu sou devoto de Santa Teresinha eu falei pra ele, “olha eu tenho que ir a Lisiux antes de começar tudo aqui. E ele me mandou um carro com dois motoristas, minha esposa estava junto comigo e fomos para Lisieux visitar onde Santa Terezinha nasceu, onde ela morou, na onde ela brincou. Fui lá porque eu queria conhecer aonde Santa Terezinha, menina tinha brincado.
Por fim, pra finalizar, são quantas obras no total?
São muitas obras, muitos trabalhos meus, né? É não só das “Brincadeiras de criança” dessa série que eu denominei “Brincadeira de Criança” eu tenho, por exemplo, “Tri Bi Tri”, Tenho o “Sarampo”, tenho o “Plástica Profana”. São séries que eu pintei, tenho séries abstratas, e no final “Brincadeira de criança”. Em se é tratando só dessa série chamada brincadeiras de criança, que são esses quadros e essas esculturas. São mais de 600. Só de brincadeira de criança e esculturas são cerca de 30 e poucas brincadeiras diferentes.
Podemos ver o quão incrível é esse artista conhecido no país e fora dele. Desde livros escolares e esculturas na principal praia de Cabo Frio, até estampas de bolsas de mercado usadas por artistas de renome internacional, as obras de Ivan Cruz vivem no nosso imaginário seja por conta das suas cores vibrantes ou pela nostalgia que sentimos ao ver as brincadeiras da nossa infância sendo representadas por aquelas peças de 1 metro e 20 de altura. Não podemos deixar de enaltecer esse artista tão único que além de ter escolhido a nossa região para viver escolheu também uma das coisas mais simples e importantes para representar em suas obras, as brincadeiras de criança.
“A criança que não brinca não é feliz, o adulto que quando criança não brincou, falta-lhe um pedaço no coração.”
Ivan Cruz