Matéria escrita por: Liandra Nogueira – Estagiária de Jornalismo
Revisada por: kleber Santos
Um dos principais patrimônios históricos de Cabo Frio, o Forte São Mateus está passando por um processo de revitalização conduzido pela Secretaria da Cidade, em parceria com a Comsercaf e as secretarias de Cultura e Meio Ambiente. A obra inclui melhorias na iluminação, pintura, instalação de novas lixeiras, manutenção do guarda-corpo e do telhado, garantindo mais segurança e conforto para os visitantes.

Enquanto o Forte recebe esses cuidados, uma questão histórica ainda aguarda resolução: a devolução de um de seus canhões, levado em 1953 por alunos do Colégio Nova Friburgo. Na época, o forte estava em ruínas, e alguns de seus canhões foram deslocados ou abandonados. Um grupo de estudantes, acompanhado de um professor, transportou um dos canhões para o colégio, onde ele foi instalado como um troféu.
Desde então, diversas tentativas foram feitas para recuperar a peça histórica. Em 1999, o Museu Histórico Marítimo de Cabo Frio enviou um ofício solicitando a devolução, mas a solicitação não avançou devido a entraves jurídicos. Agora, com o antigo Colégio Nova Friburgo desativado e sob responsabilidade da Fundação Getúlio Vargas (FGV), surge uma nova oportunidade para trazer o canhão de volta ao Forte São Mateus. A iniciativa depende de um pedido formal da Prefeitura de Cabo Frio e da orientação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), visto que o forte e seu acervo são bens tombados e pertencem à União.
A recuperação do canhão simboliza a valorização da história de Cabo Frio, resgatando um fragmento importante do passado da cidade e reafirmando seu compromisso com a preservação do patrimônio histórico.
Uma Fortaleza de Memórias e Disputas
O Forte São Mateus tem origem no século XVII, construído pelos portugueses com pedra e argamassa misturada a óleo de baleia. Sua função era defender a região das invasões francesas e holandesas, além de proteger a extração do pau-brasil. A posição estratégica do forte, localizado na Praia do Forte, o tornou um dos principais pontos militares da costa brasileira.
No entanto, antes da ocupação portuguesa definitiva, a região era disputada por diferentes potências. A partir de 1540, franceses frequentavam o Porto da Barra de Araruama em busca do pau-brasil abundante na margem continental da lagoa. Para consolidar seu domínio, em 1615, o governador do Rio de Janeiro, Constantino Menelao, organizou uma expedição para expulsar os estrangeiros. A Fortaleza de Santo Inácio foi erguida no local, mas anos depois sua estrutura foi demolida para dar lugar ao Forte São Mateus, concluído por Martim de Sá em 1620.
Durante o período colonial e imperial, o Forte São Mateus passou por diversas reformas e adaptações. Em 1818, o naturalista Saint-Hilaire descreveu a fortaleza como uma “mesquinha casa” guardada por seis soldados da milícia, que eram trocados a cada quinze dias. No entanto, sua importância histórica era reconhecida: em 1847, o Imperador Dom Pedro II visitou Cabo Frio e fez questão de conhecer o forte, sendo recepcionado com uma salva imperial de artilharia.
O abandono e a revitalização
Com o avanço dos séculos, a estrutura militar do Forte São Mateus perdeu a sua função estratégica. No final do século XIX, foi utilizado como “lazareto”, abrigando doentes terminais durante epidemias. Abandonado ao longo do tempo, chegou à década de 1930 em ruínas. Foi apenas nos anos 1960, com o crescimento do turismo na região, que investimentos começaram a ser feitos para preservar a estrutura.

Porão do Forte
Com o novo projeto de revitalização em andamento, com pintura, guarda corpo, lixeiras e manutenções no portão e no telhado. A revitalização que está acontecendo agora foi divida em duas partes. Uma antes do carnaval, focada na segurança do local e a outra parte terá a ampliação da iluminação e uma exposição que irá contar em detalhes a história do local.
A recuperação do canhão perdido seria mais um passo nesse resgate cultural, fortalecendo a identidade histórica da cidade e garantindo que futuras gerações possam conhecer de perto essa herança do passado.
Entramos em contato com a Prefeitura de Cabo Frio, a Fundação Getúlio Vargas e o Iphan, mas até o momento não obtivemos respostas sobre a situação do canhão.
