A Operação Contenção, realizada nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, deixou ao menos 64 mortos, segundo o balanço oficial divulgado nesta quarta-feira (30). O número pode ser ainda maior — há relatos de mais de 100 corpos recolhidos por equipes de perícia e levados à Praça São Lucas, na Penha, após confrontos intensos entre policiais e criminosos. A ação já é considerada a mais letal da história do estado.
O episódio provocou uma crise política entre o governo estadual e o governo federal, com troca de acusações sobre a responsabilidade pela operação e pela escalada da violência.
Durante entrevista coletiva, o governador Cláudio Castro (PL) afirmou que o Rio está “completamente sozinho” no enfrentamento ao crime organizado, sem apoio das forças federais. Ele comparou a megaoperação às ocupações de comunidades de 2010, quando o Estado tentou retomar o controle de áreas dominadas por facções criminosas.
A declaração de Castro foi rebatida pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), que afirmou, em nota, que o governo federal mantém presença permanente no Rio por meio da Força Nacional de Segurança Pública (FNSP), em operação desde outubro de 2023 e com atuação autorizada até dezembro de 2025.
O ministro Ricardo Lewandowski negou ter sido informado sobre a operação e disse não ter recebido nenhum pedido formal de apoio do governo do estado.
“Quero expressar minha solidariedade às famílias dos policiais e dos inocentes que morreram nessa operação. Mas deixo claro: não recebi nenhum pedido do governador para essa ação, nem ontem, nem hoje, absolutamente nada”, declarou o ministro.
Segundo o Ministério da Justiça, a Polícia Federal realizou 178 operações no Rio apenas este ano — 24 delas voltadas ao combate ao tráfico de drogas e armas — e atendeu a todas as 11 solicitações de renovação da Força Nacional desde 2023.
Após as declarações, Lewandowski e o ministro da Casa Civil, Rui Costa, convocaram uma reunião de emergência com o governador Cláudio Castro, que deve ocorrer ainda nesta quarta-feira (30), para discutir a segurança pública no estado. O governo estadual também anunciou uma reunião da cúpula da Segurança Pública e uma coletiva na Cidade da Polícia, onde serão apresentados novos dados sobre a operação.
Até o momento, o balanço parcial aponta 81 presos, 93 fuzis, duas pistolas e nove motocicletas apreendidas. A Polícia Civil e o Instituto Médico Legal (IML) ainda trabalham para confirmar quantos dos mortos tinham ligação com o tráfico e quantos eram moradores atingidos por disparos durante o confronto.
Enquanto isso, a escalada da violência reacende o debate sobre o uso da força policial, a ausência de coordenação entre os governos e o impacto das operações em áreas densamente povoadas, que voltam a colocar o Rio de Janeiro no centro da discussão nacional sobre segurança pública e direitos humanos.

