O deputado estadual Guilherme Delaroli (PL), 1º vice-presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), assumiu nesta quarta-feira (3) a presidência da Casa após a prisão de Rodrigo Bacellar (União Brasil). Bacellar foi detido pela Polícia Federal sob suspeita de vazar informações sigilosas da Operação Zargun, que investigou o então deputado TH Joias, preso em setembro por crimes ligados ao tráfico internacional de drogas.
A sucessão está prevista no artigo 18 do regimento interno, que determina que os vice-presidentes assumem o comando conforme a ordem hierárquica.
Sessão tensa e controle da pauta
A sessão desta quarta, iniciada às 15h, foi conduzida por Delaroli, que determinou que manifestações sobre a prisão só poderiam ocorrer ao final dos trabalhos. Em um momento, ele chegou a interromper o voto do deputado Flávio Serafini após um comentário sobre o caso.
A sessão terminou às 16h15, sem quórum para votar diversos projetos.

Quem é Guilherme Delaroli
Policial militar da reserva e ex-coordenador de projetos da Prefeitura de Itaboraí, Delaroli foi o 6º deputado mais votado do estado, com mais de 114 mil votos.
Natural de São Gonçalo e criado em Maricá, ele completou 50 anos esta semana. É irmão do prefeito de Itaboraí, Marcelo Delaroli, e preside a Comissão de Obras Públicas da Alerj.
Em 2023, protagonizou um episódio de segurança pública ao trocar tiros com criminosos em Itaboraí enquanto estava com as filhas — ninguém se feriu.
Prisão de Bacellar e operação da PF
Rodrigo Bacellar foi preso durante reunião na PF no âmbito da Operação Unha e Carne, deflagrada para cumprir oito mandados de busca e apreensão e medidas autorizadas pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF.
A investigação aponta que Bacellar teria avisado TH Joias sobre a operação que o prenderia, o que levantou suspeitas de interferência e obstrução.
Agentes estiveram no gabinete de Bacellar, na Alerj, e em seu apartamento em Botafogo.
Contexto: o caso TH Joias
O então deputado TH Joias foi preso em setembro em um condomínio de luxo na Barra da Tijuca. Ele é acusado de tráfico internacional de drogas, corrupção, lavagem de dinheiro e fornecimento de armas ao Comando Vermelho.
A prisão dele ocorreu após duas operações simultâneas, uma do TRF e outra do TJ-RJ, que cumpriram 18 mandados, incluindo contra policiais, ex-secretários e lideranças criminosas.
Bacellar: carreira, poder e queda
Bacellar foi eleito deputado em 2018 e reeleito em 2022. Assumiu a presidência da Alerj em 2023 e foi reeleito por unanimidade em 2025 — um movimento raro na Assembleia.
Chegou a ser lançado por Cláudio Castro como pré-candidato ao governo, tornando-se o primeiro na linha sucessória após articulação que levou o vice Thiago Pampolha ao TCE.
O rompimento entre os dois ocorreu quando Bacellar, como governador em exercício, exonerou o secretário Washington Reis sem aval de Castro.
STF fala em “infiltração política”
Ao determinar a prisão e o afastamento de Bacellar do mandato, Alexandre de Moraes escreveu que o caso é mais um capítulo da infiltração de organizações criminosas na política fluminense, com capacidade de corromper agentes públicos “em escala”.
Moraes afirmou que Bacellar atuaria para obstruir investigações relacionadas ao crime organizado, representando risco de continuidade delitiva.
Histórico de presidentes da Alerj presos
Bacellar é o quinto presidente da Alerj a ser preso desde 2005. Antes dele, foram detidos:
- José Nader (1991–1994)
- Sérgio Cabral (1995–2003)
- Jorge Picciani (2003–2011 / 2015–2017)
- Paulo Melo (2011–2015)
Com a prisão de Bacellar, o comando da Assembleia fica temporariamente com Guilherme Delaroli, enquanto o Rio enfrenta mais um episódio que expõe a fragilidade institucional e a influência do crime na política estadual.

