Berta Loran, uma das mais longevas e respeitadas atrizes e comediantes do Brasil, morreu aos 99 anos na madrugada desta segunda-feira (29), em um hospital particular de Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro. A artista, que completaria um século de vida em março de 2026, vivia de forma reservada nos últimos anos e havia se afastado da vida pública. A causa da morte ainda não foi divulgada oficialmente pela unidade de saúde onde ela estava internada.
Atriz e comediante Berta Loran morre aos 99 anos no Rio de Janeiro
Uma trajetória marcada por superação e talento

Nascida na Polônia como Basza Ajs, em 23 de março de 1926, Berta imigrou para o Brasil com a família ainda criança, fugindo do antissemitismo europeu. No Rio de Janeiro, iniciou sua carreira artística em clubes da comunidade judaica, apresentando-se em iídiche. Aos poucos, conquistou espaço no rádio, teatro de revista, cinema e, mais tarde, na televisão, onde se consagrou como uma das maiores comediantes do país.
Berta ficou nacionalmente conhecida por suas participações em programas de humor como “Balança Mas Não Cai”, “Planeta dos Homens”, “Viva o Gordo”, “Zorra Total” e a clássica “Escolinha do Professor Raimundo”, onde interpretou a portuguesa Dona Manuela D’Além-Mar. Sua atuação cômica, marcada por timing impecável e sotaque característico, conquistou o público por décadas.
Além do humor, Berta também demonstrou versatilidade em papéis dramáticos, como na novela “Amor com Amor Se Paga” (1984), além de participações em “Cama de Gato” (2009), “Ti Ti Ti” (2010) e “Cordel Encantado” (2011). No cinema, atuou em chanchadas e em filmes mais recentes, como “Polaroides Urbanas” (2008) e “Jovens Polacas” (2020), este último sendo um de seus últimos trabalhos audiovisuais.
Reclusão e homenagens nos últimos anos
Nos últimos anos, Berta Loran optou pelo afastamento dos holofotes. Mesmo convites para entrevistas e homenagens públicas eram recusados, numa tentativa da atriz de preservar sua imagem. Segundo amigos próximos, ela evitava aparições e mantinha-se discreta, embora lúcida e bem-humorada.
Em 2016, foi homenageada com o lançamento da biografia “Berta Loran – 90 Anos de Humor”, escrita por João Luiz Azevedo, que também organizou uma exposição com objetos pessoais e registros da carreira da artista.
Apesar da reclusão, Berta mantinha um círculo de amigos fiéis e, até poucos anos atrás, praticava atividades físicas e dizia estar disposta a voltar a atuar se surgisse um convite que a motivasse.
Legado
Com uma carreira que atravessou oito décadas, Berta Loran deixa um legado de pioneirismo, resistência e humor refinado. Foi uma das primeiras mulheres a ocupar espaços de destaque na comédia nacional e abriu caminho para gerações de artistas.
Mesmo longe das câmeras nos últimos anos, seu talento permaneceu vivo na memória do público. Berta Loran será lembrada como uma artista completa, que transformou a dor da migração forçada em arte, e que fez do riso sua principal bandeira.

